13/10/14

... labirintos esquecidos...


«well spoken, dear fellow-banqueters, well spoken! the longer i hear you speak the more i grow convinced that you are fellow‑conspirators — i greet you as such, i understand you as such; for fellow‑conspirators one can make out from afar. and yet, what know you? what does your bit of theory to which you wish to give the appearance of experience, your bit of experience which you make over into a theory—what does it amount to?» in vino veritas, kierkegaard 


... é uma travessia. toda a minha vida (quase toda) fui professor. agora, estou do outro lado. aluno. e é uma viagem, profunda. muito mais profunda do que parece. acho mesmo que me vai transformar em muitos sentidos. e não falo do que irei aprender. falo do percurso. hoje foi o primeiro dia de aulas. sim. e perante um teste diagnóstico de uma língua estrangeira em que me fartei de ler livros, artigos e tanta coisa, (porque sou do tempo da cultura francesa ser dominante) parei e fui parar ao esquecimento. o que já não sei. e é profundamente transformador estar perante o nosso esquecimento. não é não saber. é não recordar. está cá, esquecido. adormecido. inutilizado. e pensei. em breve serão os sabores. a cozinha tem destas coisas belas. os sabores esquecidos. adormecidos, podem renascer. há nisto, como dizia o poeta, todo o mistério das coisas do mundo. é também por isso que hoje, primeiro dia de aulas, senti essa viagem presa nas mãos. como se fosse preciso ir buscar forças que já não tenho. como se fosse só preciso reactivar a memória de todas as coisas. fiquei suspenso. nesse lugar. de saber tanto sobre tudo o que ali se tornou totalmente inútil porque não conseguia responder a um espaço pequenino em branco com uma terminação verbal. é estranho isto. e amanhã é tempo de escolher e saber o sabor das práticas de cozinha fria. e só me recordo de alguns sabores. sabendo que esqueci tantos. demais, talvez. porque tenho com a memória a pior das relações. esqueço sempre mais do que recordo. cabe em mim o futuro, mais ainda, como digo para mim tantas vezes. mas ali, naquelas salas, nas que agora são minhas como aluno, cabe a memória de todas as coisas. em travessia. a atravessar a vida. naquele espaço em branco que ficou por responder simplesmente porque não sabia o que escrever...

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