19/01/15

... naturalmente, saber ...


... a conversa era sobre o pão. e os químicos. e os sabores. a verdade, pensei, é que há uma geração que já não conhece o verdadeiro sabor das coisas. conhece o sabor "industrial" das coisas. ao resto chama gourmet. por vezes, até, o sabor natural, sem nada a "disfarçar" é agreste. árido. por muito estranho que isto possa parecer é assim. vamos criando o hábito de desfazer o paladar em coisas que sabem todas ao mesmo. a algo que engana o sentido. em algo que é agradável. já não temos o instinto de temer. o paladar foi, durante muito tempo, alerta. agora é outra coisa. e por isso, podemos prever um sabor. é aqui que reside esse lugar da "nova" cozinha. porque brinca com isso. esse sabor como experiência não é mais do que esse activar do sentido instintivo básico misturado com a noção moderna de criar uma "experiência". a cozinha é das únicas artes que precisa dos cinco sentidos para ser verdadeiramente apreciada. e isso faz com esta ideia da procura dos sabores que criam deslumbre se torna possível. o deslumbre precisa de tempo. e é, há mesa, que isso acontece. é, talvez, na sociedade actual, o único espaço onde o tempo permite o deslumbre. quando a cozinha e a refeição é pensada como tal, tal é possível. pensar isto é pensar tudo aquilo que é possível refazer. porque o sabor, esse, tem sempre que prevalecer...

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