11/01/15

... sentidos, recomeçar ...


... sempre "perdi" muito tempo a observar as pessoas e o seu movimento. e o mundo. o movimento dos outros no mundo (mesmo que seja um espaço pequeno e fechado) é algo de fabuloso. na cozinha, determinante. a forma do corpo, a relação com o espaço, o que estão a ver, o que estão a fazer e como o fazem. tudo, determina imenso sobre a relação possível. na cozinha, isto é incrível. as pessoas revelam e aparecem sem espelhos ou truques socialmente aprendidos naquele espaço. recomeçar esta aventura é ter a certeza de ter já encontrado pessoas fantásticas. na nobreza dos gestos, dos saberes, da vontade. sei que tenho "chefes" que são feitos de esperança. disse isto outro dia num contexto estranho. que há pessoas feitas de esperança e outras de passado. a antiga divisão que usava era boas e más. agora acho mesmo isto. e vou cruzar-me com tudo isto num espaço fechado. onde os sabores e os saberes vão ganhar forma. mas aquilo que cada um é determinará o que vai acontecer. o que vou, de cada um, aprender. a cozinha é um lugar de revelação. será sempre. onde quem pergunta se alguém que ajuda é porque não quer ajudar. se quer ajudar, não pergunta e faz. são os gestos, em tudo, que revelam as almas. como os pratos e os sabores. quando chegam à mesa. revelam as mãos que os fizeram. é a alma da coisa presa na esperança com que é feita. ou com o passado. depende da pessoa. e recordo o último momento antes desta pausa em que um chefe que encontrei neste caminho, cheio de esperança, dizia que o mundo que todos nós que ali estamos vamos encontrar não é aquele que os "filmes" mostram ou que nos querem vender. é mesmo o mundo. simples e para ser construído. restam, como sempre, as pessoas. e os sabores. se nada mais houver, que sejam estes últimos, a ficar. e se façam, como desejo, memória nos outros.

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