24/02/16

... há chefes a mais ...


«...tudo o que fazem os homens está cheio de loucura. são loucos tratando com loucos. por conseguinte, se houver uma única cabeça que pretenda opor obstáculo à torrente da multidão, só lhe posso dar um conselho: que, a exemplo de timão, se retire para um deserto, a fim de aí gozar à vontade dos frutos de sua sabedoria...»
erasmo de Roterdão

... sem internet já quase não se cozinha. o saber, fora de quem tem que saber na ponta dos dedos e da memória uma receita, leva a uma dúvida constante. faltam cozinheiros. sobram chefes. o saber, ancestral, aquele que é de experiência e memória, reside num sedimento único: o pensamento. com ele se pode criar. e cheios desta ilusão criada por milhares de programas de televisão que inundam o imaginário de quem gosta de aprender criam a imensa irrealidade que se vive numa cozinha no dia-a-dia. esta tem só uma regra: saber cozinhar com dedicação. não há lugares para diferenças entre chefes e cozinheiros nem questões como essas. ali, em frente ao fogo, só o saber e o sabor valem, verdadeiramente, para tudo salvar. é simples. de tão simples que é, poucos conseguem ver isso...

1 comentário:

Amass. Cook. disse...

Muito boa análise. A questão é que poucos cozinham, ou querem saber cozinhar. As aventuras na cozinha têm muitas vezes apenas como base a experimentação de receitas televisivas, cujos passos básicos nunca traçaram, nem tão pouco conseguem prever e adaptar na expectativa do resultado final. Para muitos, a receita é um par de algemas. Não há liberdade, impera o medo do erro. A cozinha é algo natural, onde se erra e se adapta, se improvisa, inventa e surpreende. É por isso que na cozinha gosto de me guiar pelo instinto. E quando assim não é, vale a pena folhear um dos clássicos.