08/08/14

... nem mar, nem terra ...

... aprendi a gostar mais de peixe do que de marisco com o meu avô. com ele fazia umas fugas até sesimbra onde sempre comi o melhor peixe fresco grelhado. são daquelas memórias antigas. do tempo em que se fazia tempo para o almoço indo à lota ver regatear o peixe. aprendi com ele essa coisa bonita de ver o peixe. e ir sentido o cheiro que vinha da cozinha do restaurante em frente ao mar para depois lhe saber o sabor. e lembro-me sempre de uma frase que me dizia: se um dia te disserem que "até sabe a mar", desconfia. prefere antes que te digam que sabe a peixe fresco. porque é a isso que deve saber.  (é por isso que cozinho sempre o marisco como faria com o peixe. é desta mistura que gosto.) por isso, só por isso, lembrei-me de um escritor esquecido. raúl brandão. que importa reler. sempre.

..."o mar às vezes parece um véu diáfano, outras pó verde. às vezes é dum azul transparente, outras cobalto. ou não tem consistência e é céu, ou é confusão e cólera. de manhã desvanece-se, de tarde sonha. e há dias de nevoeiro em que ele é extraordinário, quando a névoa espessa um pouco e pouco se adelgaça e surge atrás da última cortina vaporosa, todo verde, dum verde que apetece respirar."

os pescadores, raúl brandão


arroz d'entre mar e ria
45/60 minutos
ingredientes (2 px)
500g de camarões
400g de ameijoa
3 tomates maduros
alho
salsa
coentros
cebolinho
arroz (vaporizado)
pimenta
pimentão doce
cebola
azeite
vinho branco


receita: coza os camarões com uma pitada de sal, uma rodela de cebola e um dente de alho por um tempo máximo de cinco minutos. retire. reserve e deixe arrefecer. retire a casca quando estiverem frios. guarde a água da cozedura. numa panela coloque um fio de azeite, uma pitada de sal, uma de pimenta, salsa picada e cebolinho, a cebola picada e o alho picado e deixe refogar até alourar. tire a pele ao tomate e as sementes. junte e deixe refogar. junte o vinho branco e a água de cozer o camarão à medida que for necessário. passe com a varinha mágica até ficar com um molho ligeiro. junte ao molho uma pitada de pimentão doce e mais uma de salsa fresca. junte o arroz assim que ferver. junte as ameijoas. e junte, por fim, o camarão. deixe cozer até o arroz estar pronto mexendo lentamente sempre que necessário. rectifique de sal pontualmente e se necessário. se gostar, junte os coentros picados para servir.
dica: leve o tacho à mesa. deixe o arroz abrir e respirar antes de servir. acompanhe com um vinho leve e fresco. apesar de não levar picante o arroz fica com esse travo devido à pimenta inicial.

... embora o mar faça uma parte grande da minha vida sempre gostei mais da serra. curiosamente. acho que a razão é e mesma para gostar mais de peixe do que de marisco. não se pode provar o mar. nem a serra. mas o mar tem uma imensidão maior do que a serra. é que na serra posso ouvir os sons, sentir os cheiros, perder o olhar no horizonte e sei sempre identificar o que estou a sentir. com o mar há uma transformação diferente. entra em mim como algo surreal. preciso perceber antes de saber. e é assim também com esta receita que me lembrei de fazer. a meio termo. sabe a ria. às mãos que entram na areia. aos pés que caminham ao fim da manhã. cansados. sabe a vida e a experiências. é uma mistura imperfeita em todos os sentidos. só não sabe é a mar. sabe ao que tem que saber...

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