14/08/14

... sabores imprevistos ...

... chega aquela hora. um dia explico porque este espaço tem o nome que tem. abro o frigorífico. observo. penso: não tenho nada do que preciso. olho outra vez. refaço a ideia inicial. está lá tudo o que preciso. não tenho é tempo. e recordo duas coisas. a minha mãe de tempos a tempos recorda-me: olha, tu que tens um quatro de espanhol... e é verdade. deve ser por isso que gosto tanto de uns bons petiscos em modo de fim de tarde na cidade. e outra coisa que a minha mãe diz sempre (talvez por isso o hábito que tenho de saber que há sempre tempo para uma coisa rápida e saborosa que se pode fazer para almoçar ou jantar em casa em boa conversa), diz ela: nem que se faça uma tortilha. ora pois. e hoje apeteceu-me ser maroto com os sabores. é que ao abrir o frigorífico andava no ar o zambujo a cantar isto que de tão belo me inspirou.
bem te avisei, meu amor,
que não podia dar certo
e era coisa de evitar
como eu, devias supor,
que, com gente ali tão perto,
alguém fosse reparar

mas não: fizeste beicinho
e como numa promessa
ficaste nua para mim
pedaço de mau caminho
onde é que eu tinha a cabeça
quando te disse que sim?

embora tenhas jurado
discreta permanecer
já que não estávamos sós
ouvindo na sala ao lado
teus gemidos de prazer
vieram saber de nós

nem dei p'lo que aconteceu
mas, mais veloz e mais esperta,
só te viram de raspão
vergonha passei-a eu:
diante da porta aberta
estava de calças na mão

flagrante, maria do rosário pedreira






tortilha marota

20 minutos

ingredientes (1 pessoa)
3 ovos
batata
espinafre
tomate
farinheira
pimenta
pimentão doce
alho
açafrão
salsa fresca
vinho branco
azeite

receita: comece por fritar duas batatas médias em azeite em forma de "batata palha". deixe repousar e deve secar muito bem com papel para evitar a gordura em excesso. (pode juntar da pré-feita se tiver com pressa). bata, num recipiente, os ovos com a salsa, o alho picado, a pimenta, o pimentão doce e o açafrão em pitadas muito pequenas. pode juntar uma pitada de sal, mas pouco. junte depois as batatas fritas. numa frigideira com um fio ligeiro de azeite, coloque a farinheira e vá desfazendo com um garfo. quando estiver desfeita junte o tomate cortado em cubos e o espinafre cortado em tiras pequenas.  junte, se gostar, um pouco de vinho branco para reforçar sabor e não secar. salteie. deixe arrefecer um pouco e junte aos ovos misturando tudo. numa frigideira junte um fio de azeite e coloque a mistura deixando cozinhar tapado em lume médio/fraco. vire. sirva quente.

dica: faça uma salada simples com alface e cenoura. tempere bem. e faça acompanhar com um copo de vinho verde fresco ou uma limonada fresca.

... por esta já todos passámos uma vez, penso. o zambujo continuava a cantar enquanto fazia esta tortilha. e por uns segundos parei para pensar nas palavras. e no som delas. tinha uma tia que dizia que eu era maroto. quando era pequenino. ficou para sempre em mim esse som. aquela forma de dizer. e a palavra. há tantas palavras que andamos a esquecer. os miúdos hoje já não são marotos. são mal-educados. ou assim. as crianças deixaram de ser gaiatos. catraios, ao estilo de herculano. ou putos. são jovens. ou miúdos. e as palavras são tudo o que temos para ver a realidade das coisas. e o seu som. lá está zambujo outra vez. recomendo experimentarem esta receita ao som das suas palavras. principalmente desta música cujo o poema aqui partilho. mas na versão do concerto no coliseu de lisboa. há aqueles deslizes deliciosos. canta com palavras a sorrir. quase ao jeito da versão de elis e jobim nas águas de março quando acabam a rir. sejamos pois marotos no sabores. merecemos isso tudo. e no fim, um brinde verdadeiro à vida. e às palavras ditas e por dizer. para que nenhuma seja esquecida...

2 comentários:

M.Luz disse...

Nem mais, João! :)
Brindemos à Vida, e deliciemo-nos com o belo "Não deixem morrer as palavras!" do tão esquecido José Gomes Ferreira!

Unknown disse...

1,2,3 experiência!