10/11/14

... criar cozinha ...


... dei por mim a pensar. a conversa era sobre cozinha tradicional portuguesa. e eu gosto mesmo muito destas conversas/aulas. que não se pode mudar as coisas e não mudar o nome. ou mais do que isso. que a memória que temos dos nomes das coisas é tão ou mais importante que as coisas em si mesmas. e na cozinha isso é tão relevante como tudo o resto. e estava a pensar na primeira pessoa que inventou um prato que hoje chamamos de "tradicional". contemporâneo no seu tempo, deve ter sido (quem sabe) apupado por tal heresia. ou a alheira, que escondia uma religião/crença que acabou por ficar. pendurada em fumeiro "convertida" em falsos cristãos-novos. e misturava isso com uma conversa tida de manhã, sobre escoffier e a forma como mudou a cozinha. em conversa, uma vez dizia eu numa aula que o que ford tinha inventado de importante não tinha sido o carro. tinha sido, de facto e no modo, o modelo de produção. as linhas de produção. e eu que sou um fã de orwell só me lembrava de descrição do proletariado numa das obras que já aqui coloquei uma vez. é que estes "transformadores" do mundo são pessoas do seu tempo. no seu tempo. que com o que a tecnologia lhes concedeu perceberam que a cozinha não podia ser mais o espaço do intimo e do belo e precisava massificar-se. e ouvi, há duas semanas, um professor que me surpreende sempre dizer uma frase que adorei: "nunca fomos tão multidão como hoje". e isso coloca novos desafios à cozinha em si mesma. e a cada um que agora tenta inovar, criar, distinguir-se no meio da multidão. somos 7 mil milhões de outros. e temos que comer. temos que ser alimentados. mas temos também que redescobrir o sentido da cozinha para além deste primário sentido. precisamos encontrar o prazer e a descoberta. e dar sentido a tudo isto. porque o futuro é já este tempo que passa. e a tradição pode nascer agora. só é preciso desafiar o hoje. aprender e criar.

Sem comentários: