17/11/14

... coisas doces ...


... sempre fiz um arroz doce horrível. hoje, até ficou bom. foi uma "prova rápida". mas assim pareceu. a decoração é "vintage". feita por um colega/amigo. deve ser por isso, em parte. por ser feito a várias mãos. há nisto a importância de todas as coisas. por várias razões. acho que todos devem perceber que uma cozinha funciona pela identidade e ligação entre quem lá está. a cozinhar. tem uma "assinatura". mesmo que um chefe a "comande". e hoje, por uns segundos, enquanto ninguém olhava, eu vi. e lembrei-me dos passos da olga roriz. da dança. do movimento. deve ter sido por ter passado alguns dias a ouvir e ver isto. naquela dança das coisas. dos gestos. da coordenação. de dez ou onze seres humanos num espaço quadrado pequeno que circulavam entre si e entre as coisas. é curioso, tudo isto. tanto ou mais se juntar a isso uma coisa que me faz muito bem. a superação das barreiras que ergui, há muito tempo, sobre a cozinha das coisas doces. dizia eu ao chefe que nos ensinava que tinha lido que os aromas que existem na cozinha são sabores que se perdem. e apeteceu-me a poesia de vinicius que dizia que eram sabores que se libertavam do julgo inquietante do homem que os procurava. a verdade é que, ao fazer estas receitas que pareciam marcadas pelo fracasso por serem saídas das minhas mãos percebi essa imensa razão que desfaz as montanhas que esperam ser movidas. a certeza que podemos sempre superar aquilo que pensamos que não somos capazes de fazer. para isso só precisamos de ser ensinados. deixar que nos ensinem. e partilhar isso como os outros, com quem estamos, em processo criativo. não querer ainda ser autor. ser equipa primeiro. autor, depois. depois de aprender. muito. experimentar ainda mais. saber, ainda mais. para que haja nisso a coerência sustentável do caminho. e assim, mesmo que seja só arroz doce, creme de ovos, crepes e coisas que tais, seja isto tudo a base do saber das coisas por criar. para ser, quem sabe, um dia, tudo deliciosamente inquietante... 

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