04/11/14

... nem sempre ...


... haveria de chegar o dia em que eu perguntava a mim mesmo, num segundo de alguma (in)sanidade: o que é que tu estás aqui a fazer? era mais do que óbvio. surgiu hoje. também por uma razão mais ou menos simples. tinha estado, no fim de semana, numa amena partilha de ideias. daquelas discussões infinitas de que gosto muito. da razão das coisas. pensado, com força de pergunta e pensamento colocado na resposta. o pensamento tem um sabor único quando é desafiado. e hoje, enquanto cortava uma cenoura esta pergunta surgiu: o que é que tu estás aqui a fazer? durante uma semana fui questionado por vários dos professores e chefes que orientam as aulas: o que espera disto? não tive uma resposta clara. ouvia os meus colegas falar de futuro. de paixão. de carreira. eles, na sua maioria jovens, podem ter tudo isso. e eu também. mas há uma diferença. é que eu chego a meio da vida à cozinha. a este tipo de cozinha, pensada, desenhada pelas mãos mas que precisa de uma estruturação para além do gesto de mão para ser diferenciadora. eles começaram antes. ou podem agora fazer o caminho em contínuo. é diferente voltar para trás e ver as coisas já lidas, já vistas, já pensadas, já esquecidas voltarem todas. a cozinha tem esse poder. da memória do sabor. e volto ao meu pensamento. à pergunta. enquanto escrevo procuro uma resposta. talvez esteja naquilo que disse sobre a paixão uma vez. não é paixão que tenho pela cozinha. é dedicação. como tive por outras coisas que estudei, investiguei e às quais dediquei quase toda a minha vida até hoje. com muitos dias e muitas perguntas como esta que agora, hoje, fiz a mim mesmo. e é nessas duas coisas que acho que posso suportar a ideia de continuar. que a paixão se esgota mas a dedicação é aquilo que abre o caminho mesmo quando os dias são estranhos ou menos felizes. e que o pensar é tão importante com o fazer. por muito mais rápidos que os meus colegas sejam, por muito mais profissionais do que eu que ainda estou a começar, por muito mais determinados do que eu que já me esqueci de mudar o mundo mais uma vez, eu sei que pensar e olhar para a teoria que prova a prática é tão importante como o contrário. e por isso resta essa coisa, imensa, que tudo sustenta. a dedicação. porque é disso que a cozinha, a nova, a velha, a antiga e a moderna vive. daqueles que nos ensinam também isso. que os dias, as aulas, as horas, as coisas para fazer e sempre por fazer são parte desse caminho. a vida faz o resto. e ainda bem...

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