10/12/14

... provar a rudeza ...


... é sempre o tempo. o que ainda tenho. penso nisto. e numa aula que correu depressa. com o tempo a fugir entre ervas aromáticas. conhecidas. desconhecidas. e o levístico que não encontrei em lado nenhum. penso nisto e na inutilidade das horas que já foram vividas em aulas de cozinha que não o são. ou são. porque uma conversa boa, uma aprendizagem feita, como o tempo a fugir pelos dedos e perguntas que saltavam umas depois das outras contrasta brutalmente com o outro lado. a prática. custa ter que responder: não, ainda não sei fazer isso por isso não sei o que aconteceria se em vez de manjerição fosse colocada outra planta aromática. mas volto ao tempo. o tempo que tenho é menos. é contado. preciso. precioso. é o meu. é sempre assim. tal como na cozinha. tudo a seu tempo. tudo com o seu tempo. e o meu é este. só tenho este. só me resta este. se olhei para a brutalidade do acto de cozinhar, transformando esse "bruto" em "belo ou bom", agora sinto a rudeza da coisa. sim, de rude. pela experiência vivida. do "dar de comer". em larga escala. sem a beleza do cuidado. apenas as palavras doces ditas pelas pessoas que cozinharam, às que "vinham para comer", serviam de consolo. é assim que se aprende também. o que se quer. que caminho se quer fazer nisto da cozinha. e percebi que o que sempre disse faz imenso sentido. a vida é sempre feita de pessoas e experiências de que não gostamos. são elas que nos ensinam o que queremos e como queremos ser. e relembro o que ouvi noutro momento enquanto se falava de escolhas para a uma carta. que os detalhes é que mostram o cuidado. e o cuidado faz toda a diferença. porque cozinhar para dar de comer é uma coisa. e cozinhar para cuidar é outra. oiço as palavras na minha cabeça. a beleza é tão importante como a verdade. e na cozinha isso é a pedra de toque que faz a diferença. aprender o que queremos e como queremos ser define aquilo que vamos tentar colocar num prato, numa receita, na forma como a vamos servir. na forma como queremos ser. por antítese, infelizmente, mas aprender também é isto. é negar o que nos cria revolta, desalento ou desânimo. o que é rude. de rudeza. e volto ao tempo. perdido. tanto tempo perdido para a clareza desta ideia. que já tinha em mim. mas que assim, pela força das circunstância se revela ser cristalina. haja tempo, tenha eu tempo para aprender como a fazer. como fazer esta cozinha para cuidar. porque isso sim é o mais importante. porque o tempo, qualquer um, tem sempre um princípio e um fim...

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