02/12/14

... provar o respeito ...


... eu sou daquelas pessoas que perdeu a alegria. é simples. é a vida a passar por cima de nós. nada mais. isso vê-se. mas há no "criar" na cozinha coisas impossíveis algo que me fascina. e o fascínio é o que temos de mais perto de contacto com os deuses. nem que seja por breves segundos. e nestes últimos dias de caminhada nesta aventura percebi uma coisa que ainda não tinha percebido. que o tempo (ou será a idade?) me deu um imenso respeito pelos ingredientes. as coisas simples de que são feitos os pratos criados. e pelo acto de os confeccionar em si mesmos. pode ser a mais simples das coisas ou a mais complexa. mas penso (deve ser do complexo de formação cristã) na fome. no imenso respeito que é preciso ter por eu poder ter aquilo ali para criar algo diferente. e penso na fome. no não ter. e não gosto de ver uma cozinha cheia de gente sem lógica ou ordem. a fazer qualquer coisa porque é preciso fazer. há uma ordem que é respeito. o saber o que se deve fazer com cada uma daquelas coisas que temos nas mãos é mais do que aprender. é ter respeito. profundo. porque estão ali coisas que faltam em tantos lugares. e porque até a mim, a nós, pode ser negada em determinado momento da vida. é por isso que tenho sempre em mente o privilégio que é poder fazer isto. estar ali. ver tudo aquilo, fazer tudo aquilo. o respeito. profundo. que tenho que ter. porque já me faltou um dia. porque poderá faltar novamente. porque falta a muita gente que ali não está. deve ser da idade ou do cansaço. mas hoje deu-me para pensar nisto...

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