18/01/15

... coisas doces ...

... para mim os gelados eram da santini. em cascais. com fila de espera. quando havia uns trocos na carteira. ou da chipepa, quando não havia trocos. no copo. num copo. e o senhor, velhote, oferecia sempre um sabor novo que tinha experimentado naquela semana. "leva uma colher deste para experimentar". eram sabores diferentes. os bons entravam na "oferta". mas não eram os santini. agora os gelados já não sabem como antigamente. porque naquele tempo, nesse tempo, o gelado era coisa diferente. havia ali. naquele lugar. era a espera, o importante. o desejo sobre o sabor. agora é preciso tudo ser diferente. porque a espera desapareceu. resta o sabor. ou a forma simples de o criar. ou tudo isso seria só fruto da idade de inocência...

"olha, benzinho, cuidado 
com o seu resfriado 
não pegue sereno 
Não tome gelado 
o gim é um veneno 
cuidado, benzinho 
não beba demais 
se guarde para mim 
a ausência é um sofrimento"
vinicius de moraes


gelado de chocolate escondido 
45 minutos
ingredientes
massa folhada
250 gramas de frutos vermelhos
200 gramas de açúcar
100 ml de água
1 limão
gelado de chocolate preto
amêndoa

receita: corte a massa folhada em triângulo e leve ao forno. reserve. numa panela larga coloque o açúcar e a água e leve a 108º. junte os frutos vermelhos com o sumo do limão. envolva tudo com a calda de açúcar assim que esta estiver nos 108º. depois de envolver, deixe ferver até voltar a essa temperatura. deixe mais dois minutos e retire. deixe arrefecer. num recipiente coloque o gelado de chocolate preto (amargo) e envolva a amêndoa com uma colher rapidamente para não derreter. sirva.

dica: acompanhe com um copo de vinho moscatel.

... um dia tenderei a pensar nisso. e esta "sobremesa" é um registo disso. do sabor inocente. como da idade da inocência. de quando provamos algo pela primeira vez. em que o pecado invade a boca em forma de sabor e deixamos de ser os mesmos. porque provámos. porque quebrámos aquele medo. porque descobrimos aquele pecado. é disso que é feita sempre uma experiência que se quer de encanto. cada vez é preciso procurar mais isso. esse encanto. a palavra correcta seria deslumbre. mas para o deslumbre é preciso haver tempo. seja encanto, por agora, porque é imediato. talvez um dia, regresse o tempo de deslumbre...

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