08/02/15

... às vezes, a cozinha não é...


... gosto de aprender. que me ensinem. e gosto de experimentar coisas que ainda não sei fazer. combato, com isto, o medo. a pior coisa que pode existir para quem está a começar a aprender a cozinhar é o medo. a dúvida é outra coisa. a dúvida há sempre. mesmo sabendo. reparo vezes sem conta em quem ensina e nas dúvidas que vai tendo. depois, a experiência ajuda. faz com que tudo desapareça. a dúvida permanece. até ser servido, um prato, é uma incógnita. é talvez aí que reside o mistério de tudo. nesse momento em que tudo se conjuga. é curiosamente isso que nunca "aparece" na televisão. quem for para a cozinha, aprender, a pensar que é como nos "filmes" irá perceber logo que o que falta é mesmo esse momento. o não saber no que vai dar aquilo que, por muito bem planeado, depende das mãos. do momento. do tempo, do cuidado. da precisão. da sorte. é tudo isso conjugado que define esse momento. não é se está bom ou mau. é se está como foi imaginado. pensado. desejado. e quando se trabalha em equipa ainda mais complexo é. porque o imaginado por um tem que ser feito por muitos. muitas mãos. dilui-se a individualidade de cada um para se elevar a ideia do que há para fazer. é estranho isto. porque, talvez, na cozinha, esse seja o maior desafio de todos. a diluição da individualidade para a consagração de uma ideia que é um resultado criado por alguém, imaginado, e que tem que ganhar forma e sabor nas mãos de muitos. é por isso que é tão fascinante esta ideia de chamar a um grupo de pessoas que está numa cozinha uma "brigada". é curioso que a palavra brigada tem origem no conceito "romper ou separar". mas também de trabalhar. porque estar nesse grupo é dissolver a individualidade para uma criação comum. não é perder. é usar. é saber usar e encontrar o nosso lugar. na cozinha há lugar para tudo e para todos. mas é preciso encontrar esse espaço onde estamos bem. onde podemos ser quem somos, como somos, com o que sabemos mas saber que temos que colocar tudo isso ao serviço do que há para fazer. é uma lição de vida. imensa. porque é, talvez, a maior dádiva que podemos pedir a alguém que seja quem é para uma construção, uma fazer, um produto final comum. aprender isto é talvez olhar para o lado bom da cozinha. do outro, do outro lado, que também há, reservarei o pensamento para um texto a ele dedicado. fiquemos, por enquanto, espantados com essa revelação. mesmo que breve. mesmo que incompleta. mas que se evidencia cada vez mais no que é, hoje, criar cozinha...

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