10/03/15

... estar na cozinha ...


... estava bom. é bom trabalhar com vocês. no meio da correria de um momento, foi bom ouvir isto. é talvez esta uma das razões porque se faz cozinha. pelo orgulho quando o trabalho é bem feito. este lado, disto tudo, tem algo de imenso. foi um bom dia, diz-se, no fim. o dever, cumprido. e bem. e isso é bom. depois vem o pensamento. a avaliação. podia ter-se feito de outra maneira. ou podia isto ter levado mais isto ou aquilo. mas primeiro está esse dever. e esta palavra é muito importante. cozinhar é um dever. para com os outros. para os outros. sabemos isso quando alguém diz: é para cento e setenta e três pessoas. podia ser para uma só. é um dever. o trabalho em conjunto transforma este dever em objectivo. algo para ser feito. e cada um toma já, naturalmente, o seu lugar. começa-se por fazer tudo o que é preciso. depois, o resto. há sempre tempo para tudo. antecipar e preparar é sempre melhor, mas nem sempre possível. compensa-se tudo com organização. passo a passo. e tudo se vai resolvendo. isto já está. isto também. quem está a fazer isto ou aquilo. falta isto e falta aquilo. e vai-se fazendo tudo. com tempo. até para ouvir uma história de um chefe que nos faz sorrir. ou para trocar umas ideias. tirar umas dúvidas. é como se tudo agora fosse mais fácil. fluído. natural. deve ser do tempo que passou. ou então é mesmo a cozinha que vai entrando, desta forma, aos poucos pela pele dentro. pelos gestos. pela confiança. eu sou capaz. nós, somos capazes. seja de cozinhar para quarenta, seja para quatrocentos. e no final do dia, basta isso. alguém dizer: estava bom. muito bom. e o sentido, o sentimento, o valor do dever, do tal objectivo, estar levado a bom porto faz com que se sinta mesmo isso. foi um dia bom. o dia, esse ficou fora as portas. fora da cozinha. mas esse, é outro dia. não aquele. aquele é sem tempo. só sabores e desafios. e ainda bem que assim é...

Sem comentários: