05/03/15

... experiência na cozinha ...


... estive uns minutos a olhar para a experiências das mãos que temperavam chocolate. parecia simples. é sempre assim. depois há que pensar: são anos e anos. é a experiência. a que falta a estas mãos. às minhas. gosto imenso de ter dois chefes que são mestres nesta coisa do fazer. e quando falamos de doçaria conventual falamos de algo mais importante do que um doce. falamos de história e de cultura portuguesa. voltei a pensar nas mãos. já tinha visto um dos chefes a fazer fios de ovos. voltei a ver. tive a certeza que é o rito, o ritual, o gesto repetido vezes sem conta que dá o sabor. que tem o saber inscrito. estar na cozinha é para mim um exercício de organização, cooperação e trabalho. dedicação. disso já não tenho a mínima dúvida. e quem vier para a cozinha com laivos de egoísmo ou complexos de estrela tenderá a perceber que, para muito (se não for para quase tudo) depende sempre de algo externo a si. que seja o outro. ou só o espaço. mas a humildade perante os produtos, a experiência e o saber fazer é fundamental para abrir as mãos aos gestos que são preciso aprender. depois não ter ideia que se sabe fazer o que quer que seja porque na primeira vez que se repetiu o "aprendido" até saiu bem. é preciso refazer tudo dezenas ou centenas de vezes. ganhar esse "calo" que o erro dá e a certeza alimenta. depois, sim, encontrar algo de novo. mas sem dominar a técnica e construir a experiência tudo é só um castelo de areia. a cozinha é o lugar da maior das incertezas do mundo. tudo muda a uma velocidade brutal. olhei para os chefes e pensei nisso. sei que talvez não faça disto mais do que esta imensa aventura que está a ser. mas sei também que levo deles, dos colegas e do tempo vivido, lições que as mãos não vão esquecer. nunca...

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