04/03/15

... simples sabores ...


... saber não aprendido. recordei, o verso, do fado. deste fado. ao aprender a fazer a base de uma caldeirada. e tomei consciência da imensidão do que tenho para aprender com dois chefes que são diferentes mas que se complementam em respeito e dedicação. o saber não aprendido tem um sabor especial. gosto imenso dos reparos à criatividade quando falamos de receitas tradicionais. não há que inventar no que é, de si mesmo, perfeito. e há um saber e um sabor no que se cozinha há anos e anos de uma certa forma, com o saber das mãos e da prova, da cor que fica bem de certa maneira de nenhuma outra que mais nada tem. e depois, o detalhe. nas coisas. primeiro isto, depois aquilo. que não é o mesmo do que primeiro aquilo e depois isto. não é mesmo. na cozinha, nesta, feita de truques e experiência, tudo tem o seu lugar. nós, amadores em coisa amada, temos que saber respeitar isso. é mais antigo do que nós. é um saber, no verdadeiro sentido do termo. e depois, o outro lado. das coisas com sabores novos. e formas novas. e decorações. e espanto para o olhar. acho que nenhum aprendiz, naquela cozinha, tem ainda a consciência do tanto que tem a ganhar quando a mestria do acto de ensinar é feito por duas pessoas que tanto possuem de seu para dar. de formas diferentes. com saberes, desses, aprendidos e não aprendidos. mas imensos. que nos querem passar. para as mãos, para os gestos, para o olhar e o sabor. o que temos para criar. agora. no futuro. regresso ao fado. hoje foi a música que andou na minha cabeça. enquanto via nascer cada prato. e pensava cada coisa. recebi da minha mãe tudo o que sei. pode parecer estranho, mas foi. até os sabores. e estes, tradicionais e bons, provados e criados hoje, são feitos dessa memória de certeza. e um obrigado. por me ter ensinado tanto, mesmo sem o fazer como aqueles que agora me ensinam. a cozinha tem destas coisas. não são só sabores que alimentam. são recordações que se revivem...

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