17/04/15

... a essência da cozinha ...


«...evelyn: the only real failure is the failure to try. and the measure of success is how we cope with disappointment. as we always must. we came here, and we tried. all of us, in our different ways. can we be blamed for feeling we're too old to change? too scared of disappointment to start it all again? we get up every morning, we do our best. nothing else matters. but it's also true that the person who risks nothing, does nothing; has nothing. all we know about the future is that it will be different. but, perhaps what we fear is that it will be the same. so, we must celebrate the changes. because, as someone once said "everything will be all right in the end. and if it's not all right, then trust me, it's not yet the end."»

the best exotic marigold hotel, filme

... há sempre cinco minutos em que o mundo suspende a rotação e podemos pensar um pouco. chego até à nobre arte de cozinhar tarde demais. porque desisti de tudo o resto. cheio de pessoas por todos os lados. de coisas feitas a tentar mudar o mundo. sem o mudar. desisti. dei por mim a pensar nisso. enquanto pensava que é bom encontrar, nesta aventura, um professor que nos desafia. que abre caminhos. tudo com um frasco de compota e umas bolachas de água e sal. falta muito disto numa escola que devia começar mesmo por aí. por ensinar a descobrir. a mestria de quem vai mais longe permite isso. ver que isso é preciso. dada a compota de laranja a provar fica o desafio. "pensem com o que é que isto pode combinar". é isto que nos ensina. pensei primeiro no óbvio. depois no resto. não sei o que outros pensaram. sei que é aí que a experiência de vida ajuda. e os sabores em memória ajudam ainda mais. tive, por companhia da deusa fortuna, o privilégio de me ser dado a conhecer uma paleta imensa de sabores. com isso posso fazer combinações infinitas. mas acho que seria bom que uma escola onde se ensina cozinha pudesse colocar esses saberes de descoberta como centralidade da sua razão de ser no que diz respeito à cultura que futuros chefes de cozinha deviam ter. foi um professor que pela astúcia e inteligência o fez. esta cultura dos sabores e dos saberes sobre produtos é tão ou mais importante do que as técnicas. esquecemos isto, muitas vezes. há uma visão do mundo que o século passado deixou como marca fundamental: que não somos, em termos de aprendizagem, uma tábua rasa e que temos "conhecimentos adquiridos". o problema é pensar que esses conhecimento são ricos, vastos e variados. estamos no tempo do acesso. mas também no tempo da diferenciação social desse mesmo acesso. aceder é experimentar e conhecer. com isto, tudo difere. pensei nisto. que será sempre importante e urgente criar uma cultura para a cozinha. por muito abstracta que a ideia seja esta noção é, também, fundamental. pensei isto de forma simples. a mesma simplicidade que me levou à pergunta que tenho feito a mim próprio: o que vou fazer com isto? sou um idealista e acredito no homem moderno de leonardo. que não somos só razão. nem só emoção. nem só técnica. nem só cultura. que devemos procurar e ter essa ambição de nos "completarmos". a cozinha completa-me. agora mais do que qualquer outra coisa. não por impulso ou obstinação. nem por irracionalidade. está a torna-se essência de mim. é por isso que a pergunta começa a ser imperativo: o que vou fazer com isto? negar ou aceitar? há na resposta a definição do que somos. seja esta pergunta minha ou de quem um dia possa vir a embarcar numa aventura assim. há um momento em que a cozinha se apodera de nós. torna-se razão de ser. e isso é das coisas mais belas que alguém pode ter na vida. mesmo quando já desistiu de tudo...

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