26/04/15

... favas à antiga ...

... há coisas que trazem consigo o saber dos tempos. e o sabor das mãos que o conservaram. 

«...é esta a mais grandiosa história dos homens, a de tudo o que estremece, sonha, espera e tenta, sob a carapaça da sua consciência, sob a pele, sob os nervos, sob os dias felizes e monótonos, os desejos concretos, a banalidade que escorre das suas vidas, os seus crimes e as suas redenções, as suas vítimas e os seus algozes, a concordância dos seus sentidos com a sua moral. tudo o que vivemos nos faz inimigos, estranhos, incapazes de fraternidade. mas o que fica irrealizado, sombrio, vencido, dentro da alma mais mesquinha e apagada, é o bastante para irmanar esta semente humana cujos triunfos mais maravilhosos jamais se igualam com o que, em nós mesmos, ficará para sempre renúncia, desespero e vaga vibração. o mais veemente dos vencedores e o mendigo que se apoia num raio de sol para viver um dia mais, equivalem-se, não como valores de aptidões ou de razão, não talvez como sentido metafísico ou direito abstracto, mas pelo que em si é a atormentada continuidade do homem, o que, sem impulso, fica sob o coração, quase esperança sem nome.»
agustina bessa-luís


favas suadas na sombra do outono
ingredientes
1 quilo de favas
1 chouriço
1 morcela
1 cebola
3 dentes de alho
1 folha de louro
1 tomate maduro
2 tiras de toucinho
3 ovos
vinho branco
azeite
sal
pimenta

receita: refogue com o azeite, a cebola e o alho até alourar.  refresque com vinho branco. junte o chouriço, a morcela e o toucinho e deixe apurar tudo em lume brando. junte o sal e a pimenta. a meio da confecção, junte o tomate sem sementes e sem pele, aos cubos pequenos. deixe apurar muito bem juntando um pouco de água se for preciso. junte as favas e prove os temperos juntando a folha de louro. deixe apurar até ficar pronto. retire a folha de louro e sirva.

dica: depois de terminar deixe, com o lume desligado, o tacho fechado durante uns minutos. escalfe os ovos à parte em água a ferver com sal e vinagre de vinho tinto e sirva colocando-os por cima das favas.

... dos sabores antigos. daqueles que trazem o tempo marcado com se fosse um sabor. este prato, não sendo tão feito de memória como se pensa, tem esse condão de nos levar até à soma de todos os medos, de todas as bravuras, de todos os saberes do homem. é brutal, bruto, rude. e com isso sabemos que temos, na terra, as mãos e os pés, assentes...

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