21/04/15

... vontade de cozinhar ...


... a melhor coisa que se pode pedir a quem quer aprender a cozinhar é que tenha vontade e queira, de facto, aprender a cozinhar. quando as duas coisas se conjugam, sabemos que tudo pode acontecer. porque nada segura melhor um grupo de trabalho do que a motivação para aprender. essa motivação é alimentada pelo que é ensinado. quando assim não é o edifício da compreensão começa a cair. e a motivação dá lugar ao desalento. e quando se enche a escola de coisas e mais coisas e se esvazia o espaço e o tempo para aprender de coisas e mais coisas, deixando só o serviço para ser cumprido, tudo parece errado. e está. há no acto de ensinar e de aprender a cozinhar algo de muito diferente de todas as outras coisas que se podem ensinar e aprender. é que exigem o exemplo. a demonstração. a experiência e acima de tudo, depois, a reflexão. a troca de ideias. as dúvidas e a imaginação que podem abrir novos caminhos. o cansaço e o tempo são algo que, quem vem por este caminho, sabe que vai enfrentar todos os dias. já tudo o resto depende só de cada um. mas depende da forma como se vê um processo de aprendizagem. e da mestria com que este é orientado. assim como, da forma como tudo o que rodeia quem ensina condiciona o que se pode ensinar. mais que, ensinar e aprender a cozinhar exige uma imensa capacidade de troca e abertura a todas as ideias e experiências vividas. ninguém chega à cozinha sem ter vivido. sem ter uma experiência de cozinha. sem saber fazer, muito bem, alguma coisa. valorizar isso, saber perceber que com todos se pode aprender muito mais é fundamental. e quando os dias são mais longos do que as horas que neles estão contidos, sabemos que algo está mal. a vontade, a minha, de aprender está cá. intacta. talvez seja de eu ter chegado a isto tarde demais. ou pela percepção que a idade me dá da realidade que me rodeia. mas nada custa mais do que ver perder-se a vontade de aprender de todos com tanta dispersão e fogo de artificio com que se revestem as coisas. a verdade é que, em cozinha, o fogo de artifício desaparece mas o céu fica lá sempre. e o que falta, o que falta sempre é saber que o céu tem o limite que desejamos que tenha. falta devolver a quem deseja aprender, em moeda de troca, aquilo que, sem distracções, só quem sabe pode ensinar. ensinar a cozinhar. falta cumprir isso. porque a vontade é sempre um rastilho...

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