09/06/15

... viagem na cozinha ...


«...it would be wonderful to say you regretted it. it would be easy. but what does it mean? what does it mean to regret when you have no choice? it's what you can bear. there it is. no one's going to forgive me. it was death. i chose life...»
the hours (filme)

... é quase o cansaço do corredor de fundo. ao terminar a corrida. é esse que o corpo vive e absorve agora. neste preciso momento. e que viagem. que desafio este. que lugar este, da cozinha, que tem este poder e esta força. hoje fecha-se uma etapa. ficam duas para fazer. já a seguir. não há espaço para descansar. apenas uma paragem breve para respirar e olhar para o caminho feito. o resultado foi, em parte, transformado no último momento de avaliação. sinceramente, foi bom. estava bom. mais do que isso, soube a certeza de dever cumprido. em cada coisa estava a dedicação. a vontade. o amor à cozinha. tudo com coisas simples. sardinha. tomate. pimento. farinha. ovos. pouco mais. mas muita vontade. de fazer. e de fazer bem. de saber. e de saber bem. as coisas. as coisas todas que eram preciso saber. que são precisas saber. e nos momentos de dúvida surgiu tudo claro. numa escola imperfeita, cheia de gente que erra, nós somos mais uns. e não há maior lição do que esta. para quem vai enfrentar o universo profissional da cozinha. a certeza que tudo pode correr mal. que podem faltar produtos. que pode um chefe estar de mau humor. que um ego pode ser maior do que outro. que os dias não são todos iguais. que alguém pode parecer saber fazer as coisas e não o saber. nunca nenhuma escola podia ensinar tanto como quando não nega isso a quem aprende. que nos "obriga" a contactar com vários chefes. que nos colocam perante momentos de desânimo ou de alegria. às vezes no mesmo dia. é esta escola que precisamos. para aprender cozinha. repleta daquilo que nos torna humanos. verdadeiramente humanos. o ser preciso ser maior e melhor do que as nossas imperfeições. perceber isto é aprender cozinha. isto e terminar com a ideia que aprendi mesmo muito. com alguns chefes, as técnicas. com outros, olhares e visões. e com outros, a ser desafiado. com todos aprendi o que é isto de cozinhar. onde está a alma disto tudo. e a vontade. redescobrir a vontade de aprender algo é maravilhoso. despertar isso é mesmo uma arte que só alguns conseguem. enquanto arrumava as coisas no final de um dia, mais um, pensava nesse agradecimento necessário. por ter ouvido sempre, cada pessoa, aprendi. perdi todas as certezas que tinha. e ainda bem. foi por as ter perdido que consegui encontrar um caminho para a minha cozinha. a que vou querer, agora, aprender verdadeiramente a fazer. uma cozinha que tem raízes. explicação. memória. história. e sabor. podia ter aprendido muito mais? não. podia tudo ter sido melhor. não sei. sei que foi o que tinha que ser. e foi transformador. verdadeiramente. porque quando uma escola que ensina cozinha coloca a arte de viver como sabor para ser aprendido ao lado das técnicas que são precisas dominar, sabemos que estamos no lugar certo. as máquinas fazem qualquer coisa melhor do que nós porque não erram. mas ainda bem que nós erramos. é por isso que aprendemos sempre mais. que o tempo que agora começa seja isso tudo. com tudo o que a vida tem. de bom e de mau. porque o resto é só a nobre e imensa arte de cozinhar que agora reina nas mãos de quem ganhou um imenso gosto e dedicação a este ofício...

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