15/10/15

... fora do tacho ...


"...se tudo isto não é demasiado utópico, então ainda há realmente esperança. e então façamos um pedido: não nos tirem o gosto pela aprendizagem em nome do imobilismo e da falta de imaginação!"

ana hatherly

... ao fim de tanto tempo endurece o caminho pelos passos dados. o cansaço toma forma. é muito, muito difícil mudar o rumo de uma vida. há momentos de desolação e outros de desesperança. muitos de cansaço. mesmo quando está quase tudo a terminar. mesmo quando sabemos isso como certeza do objectivo traçado para além de todos os outros. "viver todos os dias cansa", relembro. o pedro paixão com quem conversei tantas vezes diria que há na nobreza de estar louco assim qualquer coisa de uma utopia incurável. um sangue ou similar. depois, depois há o cozinhar. o juntar os sabores. e o aprender. e o desafio. aprender sempre. e a pergunta. nunca ter medo de perguntar. ando a falar de coelho há tempo a mais. pergunto a todos os chefes que me ensinam e com quem aprendo: qual é o segredo para fazer um bom coelho. todas as respostas são diferentes. desde o aroma de alfazema, às cenouras miniatura, ao enrolar dos espinafres no centro ao gesto que me disse tudo de uma chefe que admiro e apontou para o peito dizendo: tem que vir ai de dentro. como sempre vou juntar tudo isso. gosto deste exercício em particular. porque cozinhar e aprender é essencialmente isso que tem na sua base: saber ouvir todos. depois, no fim, dar o nosso toque, esquecer todas as dores, mágoas e tudo o resto. ficar só tudo o que de mais simples há. sabores para criar. o resto, o resto é sempre a vida e essa segue sempre o seu caminho. que fique o sabor e que seja esse o último lugar da utopia e da loucura. nem que seja por um breve instante...

Sem comentários: