28/11/15

... competir é perder na cozinha ...


«... há em todas as coisas um halo melancólico, o que tem a ver com mundos que desapareceram, vidas que não sei até que ponto terão chegado a realizar, pessoas que esperam, ainda, que alguém se interrogue sobre o mistério da sua existência...»
nuno júdice

... aprendi uma coisa muito importante. quem cozinha tem que cozinhar tudo. o que gosta e o que não gosta. e tem que saber e ter feito tudo. da mais aparente insignificante encomenda ao mais rudimentar acto de, por exemplo, ao fim do dia levar o lixo ao seu devido lugar. cozinhar é das coisas mais exigentes que conheço no que toca à necessidade de aprender e fazer tudo de novo constantemente. as estrelas, hoje, da cozinha, tendem a mascarar tudo isto. há um glamour onde não existe. pior, isso transparece para quem está a aprender a dar os primeiros passos ainda. a ideia de competição é um absurdo neste contexto. em cozinha é estúpido falar em competição. em qualquer modo ou forma. e isso é assim pela mais simples das razões. porque a única competição que um cozinheiro deve ter é para consigo mesmo e para com os alimentos. se a primeira é de observação das suas limitações e conquistas a segunda é ainda mais poderosa. é um combate entre a humanidade e a natureza. esse sim, deveras interessante. e mais nenhum outro tem lugar numa cozinha. se se ensina isso ensina-se mal. se se pensa nisso deve repensar-se tudo porque tudo o resto que não seja isto, estas duas coisas centrais que qualquer cozinheiro sabe que assim é, transforma a cozinha em tudo aquilo que não deve ser e, acima de tudo, faz perder aquilo que se quer e que define a cozinha em si mesma. esse espaço de tempo de dávida constante para os outros. é sempre para os outros. isso não se pode esquecer. nunca. ou então estaremos a fazer tudo menos cozinhar. com estrelas mas sem brilho...

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