01/11/15

... na cozinha ninguém manda ...


«...tudo o que fazem os homens está cheio de loucura. são loucos tratando com loucos. por conseguinte, se houver uma única cabeça que pretenda opor obstáculo à torrente da multidão, só lhe posso dar um conselho: que, a exemplo de timão, se retire para um deserto, a fim de aí gozar à vontade dos frutos de sua sabedoria...»
erasmo, elogio da loucura

... retiro-me, agora. já o tinha feito, da vida, agora, da cozinha. na cozinha. nesta caminha aprendi duas coisas fundamentais: ouvir sempre, aprender sempre e que nada feito pelas minhas mãos possa ser provado sem eu achar que está bom. estabelecer estas duas regras que são padrões de um modo de estar na cozinha fazem do caminho que faço uma travessia imensa. porque exige muito mais do que só cumprir estes mandamentos. ouvir exige, em primeiro lugar, colocar de lado as minhas (poucas ou nenhumas) certezas. e aprender pode ser ver comprovado aquilo que pensava errado ou certo no caminho oposto. e depois a regra que tenho que não gosto que nada do que posso fazer não cumpra essa ideias simples e muito exigente de ser, para mim antes do que para quem vai comer, algo que está verdadeiramente bom. não é bem feito nem tecnicamente bem executado, nem bonito. é bom. e bom é o somatório de tudo isso. é por isso que, para sobreviver neste tempo das coisas feitas de todas as formas e de todos os modos, me tenho que retirar. me colocar fora da corrida. este nunca foi o meu tempo. nem o meu mundo. nem nada disso. sou só uma pessoa mais do que imperfeita a tentar aprender a cozinhar. isso pode não ser nada. neste tempo, não é. é até o pior lugar para estar. por isso, tudo custa muito mais. cada dia, cada coisa que não aprendo, cada palavra dita sem razão, cada falha que tenho. cozinhar e aprender a cozinhar é agora, para mim, um lugar de retiro. para encontrar o que falta. ou sobreviver. tão somente...

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